Todos os escritores que ocuparem-se em temas eróticos ou sombrios viveram de uma certa forma suas experiências pessoas com a mesma intensidade com que escreveram e criaram os personagens desta forma numa complexa fusão, as vidas destes homens confundem-se com suas obras. O genial Donatiem Alphonse François, mais conhecido como Marques de Sade, não fugiu a regra a sua vida pessoal foi tão intensa quanto a de seus personagens.
Este aristocrata francês nasceu no ano de 1740 e sua juventude gloriosa foi sempre envolta de jovens fogosas, ou mesmo metido dentro de bordeis e prostíbulos do lixo e do luxo onde o sexo é devasso corria solto com os requintes apropriados!
Contam os seus biografos e estudioso do assunto que o libertino passava dias metidos nestes antros de luxuria e perdição onde sempre duas, três ou o número razoável de mulheres compartilhavam com ele de deliciosas orgias onde uma completa libertinagem, sexo e até violência eram praticadas de acordo com o preço a ser pago pelos requintes e fantasias do ilustre francês.
A exaltação à sodomia propriamente dita como o prazer dos prazeres, compunha um dos deleites mais preferidos do escritor, oras sodomizando suas parceiras de prazer que eram varias e ao mesmo tempo deixando-se sodomizar por falos artificias amarrados nos ventres destas mundanas. Tudo mergulhava numa orgia grupal onde as mais ousadas praticas, ganhavam a dimensão e a loucura de um êxtase Dionísio!
Gostava muito de espancar e chicotear as mulheres, as prostitutas propriamente citadas e isto acabou-lhe custando processos e queixas a justiça e até mandatos de prisão! Ele parecia seguir a risca um conselho de um escritor português chamado Forjas de Sampaio que a mais de 100 anos a frente, em 1905 ele escrevia suas “Palavras Cínicas” e aconselha os homens de um segredo já muito praticado pelo Marques: “ Para se amado pelas mulheres é preciso espanca-las!”
Segundo o próprio Marques de Sade o homem deve assumir seus instintos e deixar seu lado natural fluir, porem um conselho do sábio mestre deve se fazer valer ao tomar cuidado para que toda suas praticas desta natureza não venham a publico, a curiosos a amigos e vizinhos.
O homem é um animal como qualquer outro e sua única diferença é seu intelecto que deu uma forma significativa, lhe deu o privilegio do espaço da vida criando para ser civilização, mas não pode este mesmo homem perder de vista seus instintos animalescos e pelo contrario deve sim extrair o máximo de prazer de toda sua selvageria, os instintos primitivos devem ser exaltados e só assim o homem realiza-se fisicamente e espiritualmente misturando prazer e dor.
Neste jogo de crueldade e sexo as fortes sensações ganham de tudo que há convencional, seu casamento que no fundo é uma prostituição legalizada onde o homem vê suas redias puxadas e sua vida devassa reprimida reduzida a um coito convencional,”cumprimento do dever conjugal” como escreveu Rimbaud, para Sade esta instituição esta condenada a falência pelos séculos vindouros.
A humanidade moral cristã pratica o sexo em silêncio em seus lares privados, cada mulher jovem ou adulta que passa bem discretamente ao nossos olhos, a noite com seus emporcalhados maridos ou amantes assumem sua verdadeira condição no mundo como verdadeira prostituta desejada, esta visão transgressora ganha nas obras do Marques um traço de filosofia pura e ele leva para o campo das reflexões toda a sujeira e putaria do ponto de vista moral.
Para Sade o primeiro passo para a evolução espiritual e rechaçar a crença no Deus hebreu e cristão
pois eles carregam toda ignorância e vícios e traços do povo que os inventaram, renegar esta moral maldita infame que já dura mais de 2000 anos!
Sade é um anti-cristo convicto fiel e radical para ele o homem deve se livrar do amor, não se enamorar de ninguém em seu lugar o prazer ganhara espaço suficiente, não mendigar jamais um beijo a uma mulher, mas se puder profanar, seduzir, enganar, ousar e por fim conquistar e tomar no uso da força se for preciso usando a violência, quanto mais forte e selvagem for um homem maior também será o número de femeas a seu dispor pois a natureza da vitoria aos mais ousados!
A mesma opinão compartilhou mais tarde Schopenhauer na sua obra “meta-física do amor e amor a mulher e a morte” este é um misto confuso de uma eterna luta, brutal por prazer e satisfação, a dor
é o ingrediente apimentado do prazer, a prolongação de uma nova sensação onde métodos como bater, arranhar, morder, dar tapas e chicotear completam o cenário que leva ao êxtase.
Os cristãos condenaram-no, fugiram dele e como moleirões que são fogem do francês anti-cristo que é mais cruel que o aço de guilhotina, assim em poucas palavras ele fulmina com os cristãos sem muitos argumentos, mas apenas minando os alicerces desta religião que mais sangue derramou em toda a história.
A filosofia e a literatura do mestre exalta de forma inteligente a libertinagem assim como Alfred Musset exaltou “Gamiame” a libertinagem propriamente dita como movimento artístico nasce no renascimento europeu e resgatou valores humanos e exaltou o corpo como templo de Eros, os primeiros desenhos e ilustrações pornográficas circularam pela Europa de forma clandestina mas passaram a ser bem populares assim como são hoje em dia revistas e filmes pornográficos as pessoas fazem vista grossa, escondem, disfarçam, negam o prazer mas todo mundo gosta e tem curiosidade de ver um filme ou desfolhar um revista do gênero. Esta é arte dos mais canalhas e dos mais espertos que levantam milhões e ainda ficam com todos os tipos de mulheres, sendo as mais belas e sonhadas por todos, tudo isso tem uma raiz na filosofia do Marques de Sade.
A pornográfica possui uma filosofia pra fora, afronta a moral e média distância do desejo e da realização do prazer do corpo sem nenhum tabu ou pecado, é o verdadeiro caminho do paraíso ...
Nas obras do Marques de Sade ele rompe com a religião e o amor, destaco aqui algumas de suas obras como os “ Crimes de amor”, “Justine”, “Os infortúnios da virtude”, “Filosofia de alcova”, e “Os 120 dias de Sodoma”, obras que foram proibidas mais de 150 anos, sendo que circularam por Paris clandestinamente, seu escritor penou por mais de 17 anos em presídios e manicongos e foi proibido de expressar, de falar de escrever, foi torturado e amordaçado! Sendo ele o rei da tortura na literatura seu nome originou a palavra sadismo tornando-se um gigante pernicioso e cruel, acadêmico por excelência e mostrou de forma elegante como é gratificante praticar a arte de amar e de odiar, seus escritos são para os fortes, para os que conhecem as coisas boas da vida ele é genial demais para repetir tudo que os outros já haviam escrito. Sade viu de perto muitos sifilíticos enlouquecidos no sanatório e isso também se enquadrou na visão do mestre como forma de critica contra a sociedade , a religião crista jamais foi poupada nas obras de Sade: `` a ideia de Deus e o único erro pelo qual eu não posso perdoar a humanidade...” ele expressou claramente sua repugnância sobre o cristianismo como fez Nietzche, desmascarou os líderes da igreja e profanou o que os cristãos chamam de sagrado.
Não há gratidão na natureza, generosidade ou troca, o prazer individual egoísta consome-se por si mesmo num epicurismo radical.
Ele ficou proibido de escrever, tiraram-lhe papel e tinta, mas ele usou seu próprio sangue para tinta e um osso de frango virou ponta de caneta, em Bastilha foi um preso famoso e lá ele lia muito autores como Voltaire, Maqueavel, Montesqueur entre outros.
Cada livros seu publicado se tornou um escândalo publico em Paris e horrorizados trataram de banir e proibir seus livros, hoje é tão celebre e popular como Heine, Sofocles, Dante, Byron entre outros, suas obras contribuíram para tudo que importante no nosso tempo e a sociedade lhe deve culto, pois todo mundo no fundo adora filmes pornográficos usam roupas de couro, apetrechos sado-masoquistas, fetiches, padrinhos, fotos eróticas e sensuais, movimentos de periferias como o punk e o heave metal, cintos com rebites, botas, filmes de terror, quase tudo isso tem origem nos princípios do senhor Marques de Sade. Ele fecha seu discurso avassalador e provoca todos de forma cínica e inteligente “ Imperioso, colérico, irascível, extremo em tudo com uma imaginação libertina jamais vista, ateísta a ponto do fanatismo aqui você me tem em poucas palavras, me aceite como sou pois nunca mudarei...
segunda-feira, 14 de abril de 2008
segunda-feira, 7 de abril de 2008
A SOMBRA DE OSCAR WILDE
"O prazer para o belo corpo, mas o sofrimento para a bela alma..." - Oscar Wilde
Oscar Wilde foi mais um destes excêntricos que levaram suas paixões muito além da própria realidade. E como comentou Albino Forjaz de Sampaio a seu respeito: "Irmão gêmeo de Baudelaire na excentricidade". Ele era a imagem da mais pura representação do Dandysmo londrino!
Vaidoso ao extremo, o verdadeiro príncipe da moda insultou sem piedade o dia-a-dia da sociedade em que pertencia. Sua genialidade, porém, fazia-o provocar os "moralistas", mas com inteligência e estilo próprio e sempre original.
Mas seu jeito galanteiro fez com que ele fosse muito bem falado pelas mulheres, e suas aventuras com elas eram numerosas...
Mas não será da sua biografia de que irei tratar neste texto, mas sim de algumas de suas obras, em especial aquelas mais profundas.
"O Retrato de Dorian Gray" é sem dúvida nenhuma a obra que o consagrou definitivamente para a imortalidade, e o próprio cinema deu ainda mais vida à sua obra. O filme, de 1945, ficou perfeito, e foi uma pérola rara, feito é claro, para os raros.
Das páginas de seu romance publicado no ano de 1890, tiramos palavras tão profundas que, ouvindo-as serem pronunciadas por uma de suas personagens, em uma imagem de cinema, ficamos diretamente envolvidos no conflito que reflete no seu âmago a cada um de nós na essência...
Quem tiver o privilégio de assistir o filme "O Retrato de Dorian Gray" ou ler o livro, vai entender o que eu estou falando.
No filme, logo de início aparece uma citação do Rubáiyát de Omar Kháyyám:
"Enviei minha alma através do invisível, para soletrar uma carta desta pós vida, e aos poucos minha alma voltou para mim e respondeu: Eu mesmo sou céu e inferno."
Direi simplesmente que é profundo... como o próprio Dorian Gray, mas não discutirei sobre a grandeza de Omar Kháyyám, não desta vez. Prossigo portanto com o comentário da obra de Oscar Wilde.
À leitura do romance, acompanha uma boa taça de vinho, fazendo justificar algumas argumentações de um dos personagens:
"Nada pode curar melhor a alma do que os sentidos..." Quanto à imagem do filme, é para mim um culto sagrado, e toda vez que desligo-me de toda a realidade para apreciar, levo em minhas mãos o livro e assim acompanho lendo os diálogos dos personagens em perfeita comunhão com as belas imagens do filme!
Lord Henry, um dos personagens principais da obra, chama-nos a atenção por suas geniais idéias, às vezes assustadoras, mas sempre geniais. É ouvi-lo:
"Algum dia, quando estiver envelhecido, enrugado, feio, quando a meditação lhe tiver murchado a fronte com suas rugas e a paixão marcado seus lábios com horríveis estigmas, sentí-lo-a terrivelmente. Agora, onde quer que apareça encanta todo mundo, será sempre assim?..."
Completando a forte argumentação do ilustre Lord Henry:
"Mas o que os deuses dão, tomam logo em seguida. O senhor não tem senão uns poucos anos para viver verdadeiramente, perfeitamente, plenamente. Quando sua juventude se desvanecer, a sua beleza ir-se-á com ela. Então descobrirá que nada ficou dos seus triunfos."
Fechando os argumentos sobre a velhice, o personagem convence com poucas palavras:
"Aproveite a juventude enquanto a tem! Não esbanje o ouro dos seus dias dando ouvidos aos tediosos. Viva! Viva a maravilhosa vida sua!"
Cena espetacular! Merece até um trago de vinho! Mas ver o filme e ler o livro é muito mais que um simples entusiasmo momentâneo, é algo para rever sempre, refletir, analisar. Então outra personagem nos assombra com as seguintes palavras, é o próprio Dorian Gray quem fala:
"Se eu ficasse sempre jovem e esse retrato envelhecesse?! Por isso eu daria tudo! Sim, não há nada no mundo que eu não desse! Daria até a minha própria alma!"
Um pacto! Uma espécie de "Fausto Goetheano", mas ainda jovem clamando por seu Menphistófeles... O inimigo da luz, mas o único que nos devolve a nossa juventude que a cada dia se esvai!
Quem de nós em uma noite qualquer de insônia, pelas tantas horas da madrugada, não pensou profundo nesta questão?
Velhice, juventude... duas palavras que dá no que pensar, e destas palavras Oscar Wilde criou uma obra excepcional! Isto não é maravilhoso? Sim, Wilde é como Albino Forjaz Sampaio falou: "Sutil autor de 'The Picture of Dorian Gray'"
Morreu de meningite e "já tranquilamente apodreceu na escuridão da cova, o luminoso Oscar Wilde morreu já há muito... "
Porém, Harborough Sherard argumenta que "só restam dele alguns dentes furados tapados a ouro e as obras primas".
"O Retrato de Dorian Gray" é uma delas, e eu entendi-me entusiasmado no comentário desta obra que acabei esquecendo que outras obras de grande relevância e mérito também imortalizaram o ilustre Dandy. A saber:
"O Fantasma de Canterville", "Salomé" (peça de teatro que foi proibida em sua estréia em 1892), "Uma Mulher Sem Importância", "A Duquesa de Pádua", "Vera", "Os Niilistas", "The Profundis" (esta obra, escrita na dura prisão onde pagou pena por dois anos com trabalhos forçados).
Enfim, Oscar Wilde é um gigante da literatura, sua arte fantástica está nos seus livros e cabe a nós explorarmos este vasto universo. E um bom começo é escolher uma destas madrugadas para assistir o filme "O Retrato de Dorian Gray".
"Enviei minha alma através do invisível, para soletrar uma carta desta pós vida, e aos poucos minha alma voltou para mim e respondeu: Eu mesmo sou céu e inferno." - Rubáiyát de Omar Kháyyám
VICTOR HUGO UNIVERSAL E CATEDRALESCO
"Como é triste a alma, quando a sua tristeza provém do amor". - Victor Hugo
Enquanto que Byron, o poeta que carrega toda a dor da Europa, é visto e admirado como um símbolo de rebeldia individual, Victor Hugo é admirado como símbolo de rebeldia universal, abrangendo de forma compacta toda a humanidade.
A grandeza das idéias e princípios byronianos consiste em conflitos da alma, dúvidas, medos, amores e paixões desenfreadas. É o indivíduo, o fragmento que sente profundamente uma aspiração e um fascínio pelos mistérios e pelas sombras.
Já a obra de Victor Hugo é o espelho que reflete toda esta humanidade sofredora, o povo oprimido pela miséria. As grandes massas humanas em conflitos e confrontos diretamente ligados com todas as questões sociais.
A miséria, mãe de todas as desgraças, encontrou em Victor Hugo seu confessor e testemunho fiel, e da profunda reflexão deste vasto universo de sofrimento nasceram obras como Os Miseráveis, O Corcunda de Notre Dame, O Homem que Ri, Os Trabalhadores do Mar, Noventa e Três, entre tantas outras.
A obra O Corcunda de Notre Dame é mais conhecida pelo título Nossa Senhora de Paris, e o drama todo se dá em uma Paris medieval, com o personagem central sendo um protótipo corcunda que daí para frente fica definitivamente gravado como figura de fortes traços disformes. Quasímodo, como é chamado, é uma figura grotesca por seu lado físico externo, mas humanamente ingênua e oprimida na alma...
O cinema soube explorar muito bem esse personagem no começo do século, e o grande Lon Chaney, um dos melhores atores de cinema de horror de todos os tempos, foi quem fez o papel de Quasímodo. Desta forma, O Corcunda de Notre Dame estava definitivamente imortalizado através do cinema, passando a fazer parte da vasta galeria de monstros que compõem todo o cenário de horror cinematográfico.
Futuramente a imagem grotesca e disforme do corcunda passa a fazer parte também de filme de vampiros, mas literalmente é personagem Huguesco e não de Bram Stocker (o escritor criador do mais famoso vampiro da história, Drácula). Assim, o corcunda reflete um conflito profundo de submissão e deficiência física que para o povo é motivo de escárnio e zombaria, em oposição a sua figura que causa repugnância vista diretamente por qualquer um.
Mas Quasímodo surpreende o espectador por seu profundo sentimento por uma bela jovem, a personagem cigana Esmeralda. Seu tímido amor por ela faz com que ele lute sozinho contra a tirania da igreja e a população enfurecida.
Em uma cena impressionante tirada das imortais páginas da obra de Victor Hugo, o cinema transforma o conflito em um épico de combate violento. A cena onde, de cima da Catedral de Notre Dame, o corcunda joga enormes blocos de pedra na multidão esmagando dezenas de indivíduos aglomerados no portal principal da igreja com o intuito de invadir e sequestrar Esmeralda, toma mais energia e movimento quando um enorme tronco de madeira maciça também é precipitado catedral abaixo, esmagando mais infelizes!
Por fim, Quasímodo derrama pelas bocas dos gárdulas do alto de Notre Dame, um enorme caldeirão contendo chumbo derretido a ferver em fogo brando, queimando impiedosamente boa parte de seus inimigos malfeitores.
Impressionante! Victor Hugo é impressionante!
Meu argumento toma fôlego para falar agora dos Miseráveis, outra obra de grande mérito também transportada para o cinema, e este é que tem a força propulsora de imortalizar definitivamente uma grande obra literária. Se bem que ela já era imortal.
O grande escritor Afonso Schmidt dizia que Os Miseráveis é um romance escrito dia-a-dia com todas as forças da alma. E realmente, é a força da alma que clama por justiça, então aí está um grande e infinito conflito humano. Repleto de personagens que no fundo refletem a cada um de nós em nossa luta dia-a-dia pela sobrevivência em meio ao caos e as lágrimas.
Neste horror verdadeiro, provocado pela mãe de todos os males do mundo, a miséria, toda criatura depara-se com um fantasma um tanto sinistro, a fome que carcomendo o estômago impele a criatura ao roubo, ao crime, a prisão e a morte.
Na obra Os Miseráveis, tudo isso é muito presente, muito real, muito verdadeiro, reflexo muito bem elaborado da realidade humana.
Mas o catedralesco Victor Hugo, genial em suas criações literárias, surpreende-nos em uma de suas obras, Os Trabalhadores do Mar, em uma outra cena fantástica descrita minuciosamente por ele mesmo como se ele tivesse havido presenciado um terrível combate de um de seus personagens, Gilliat, com um enorme monstro marinho, uma espécie de polvo gigante. Observem este fragmento:
"Gilliat estava na água até a cintura, os pés crispados sobre escorregadios seixos redondos, o braço direito aperreado e imobilizado pelas lisas espirais dos tentáculos do polvo... Três dos oito braços do polvo continuavam aderentes à rocha, os outros cinco aderentes à Gilliat. Tinham em cima dele duzentas e cinquenta ventosas, numa mistura de angústia e asco. Ver-se apertado por um punho desmesurado cujos dedos elásticos de quase um metro estão cobertos do lado interior por vivas pústulas que lhe escavam a carne! O polvo foi apertando cada vez mais e mais, e o seu esforço cresce em proporção ao homem..."
Aqui neste épico de arte fantástica, Victor Hugo descreve este violento combate com um monstro marinho como que se toda a cena fosse por ele filmada em uma câmera super 8. Coisa que em seu tempo ainda não havia sido inventada.
A universalidade dos personagens Huguescos atinge proporções por nós muito pouco compreendidas, mas o paralelo com a nossa própria realidade é muito claro! Sentimo-nos assim diretamente envolvidos ao mergulhar nas páginas de seus escritos ou ainda com o novo recurso, assistindo algum filme onde a obra de Victor Hugo foi muito bem adaptada para as telas, como é o caso de Os Miseráveis e O Corcunda de Notre Dame, entre outras. Quem puder conferir, faça-o agora porque é imperdível e fascinante, além de ser uma lição de humanidade...
Enquanto que Byron, o poeta que carrega toda a dor da Europa, é visto e admirado como um símbolo de rebeldia individual, Victor Hugo é admirado como símbolo de rebeldia universal, abrangendo de forma compacta toda a humanidade.
A grandeza das idéias e princípios byronianos consiste em conflitos da alma, dúvidas, medos, amores e paixões desenfreadas. É o indivíduo, o fragmento que sente profundamente uma aspiração e um fascínio pelos mistérios e pelas sombras.
Já a obra de Victor Hugo é o espelho que reflete toda esta humanidade sofredora, o povo oprimido pela miséria. As grandes massas humanas em conflitos e confrontos diretamente ligados com todas as questões sociais.
A miséria, mãe de todas as desgraças, encontrou em Victor Hugo seu confessor e testemunho fiel, e da profunda reflexão deste vasto universo de sofrimento nasceram obras como Os Miseráveis, O Corcunda de Notre Dame, O Homem que Ri, Os Trabalhadores do Mar, Noventa e Três, entre tantas outras.
A obra O Corcunda de Notre Dame é mais conhecida pelo título Nossa Senhora de Paris, e o drama todo se dá em uma Paris medieval, com o personagem central sendo um protótipo corcunda que daí para frente fica definitivamente gravado como figura de fortes traços disformes. Quasímodo, como é chamado, é uma figura grotesca por seu lado físico externo, mas humanamente ingênua e oprimida na alma...
O cinema soube explorar muito bem esse personagem no começo do século, e o grande Lon Chaney, um dos melhores atores de cinema de horror de todos os tempos, foi quem fez o papel de Quasímodo. Desta forma, O Corcunda de Notre Dame estava definitivamente imortalizado através do cinema, passando a fazer parte da vasta galeria de monstros que compõem todo o cenário de horror cinematográfico.
Futuramente a imagem grotesca e disforme do corcunda passa a fazer parte também de filme de vampiros, mas literalmente é personagem Huguesco e não de Bram Stocker (o escritor criador do mais famoso vampiro da história, Drácula). Assim, o corcunda reflete um conflito profundo de submissão e deficiência física que para o povo é motivo de escárnio e zombaria, em oposição a sua figura que causa repugnância vista diretamente por qualquer um.
Mas Quasímodo surpreende o espectador por seu profundo sentimento por uma bela jovem, a personagem cigana Esmeralda. Seu tímido amor por ela faz com que ele lute sozinho contra a tirania da igreja e a população enfurecida.
Em uma cena impressionante tirada das imortais páginas da obra de Victor Hugo, o cinema transforma o conflito em um épico de combate violento. A cena onde, de cima da Catedral de Notre Dame, o corcunda joga enormes blocos de pedra na multidão esmagando dezenas de indivíduos aglomerados no portal principal da igreja com o intuito de invadir e sequestrar Esmeralda, toma mais energia e movimento quando um enorme tronco de madeira maciça também é precipitado catedral abaixo, esmagando mais infelizes!
Por fim, Quasímodo derrama pelas bocas dos gárdulas do alto de Notre Dame, um enorme caldeirão contendo chumbo derretido a ferver em fogo brando, queimando impiedosamente boa parte de seus inimigos malfeitores.
Impressionante! Victor Hugo é impressionante!
Meu argumento toma fôlego para falar agora dos Miseráveis, outra obra de grande mérito também transportada para o cinema, e este é que tem a força propulsora de imortalizar definitivamente uma grande obra literária. Se bem que ela já era imortal.
O grande escritor Afonso Schmidt dizia que Os Miseráveis é um romance escrito dia-a-dia com todas as forças da alma. E realmente, é a força da alma que clama por justiça, então aí está um grande e infinito conflito humano. Repleto de personagens que no fundo refletem a cada um de nós em nossa luta dia-a-dia pela sobrevivência em meio ao caos e as lágrimas.
Neste horror verdadeiro, provocado pela mãe de todos os males do mundo, a miséria, toda criatura depara-se com um fantasma um tanto sinistro, a fome que carcomendo o estômago impele a criatura ao roubo, ao crime, a prisão e a morte.
Na obra Os Miseráveis, tudo isso é muito presente, muito real, muito verdadeiro, reflexo muito bem elaborado da realidade humana.
Mas o catedralesco Victor Hugo, genial em suas criações literárias, surpreende-nos em uma de suas obras, Os Trabalhadores do Mar, em uma outra cena fantástica descrita minuciosamente por ele mesmo como se ele tivesse havido presenciado um terrível combate de um de seus personagens, Gilliat, com um enorme monstro marinho, uma espécie de polvo gigante. Observem este fragmento:
"Gilliat estava na água até a cintura, os pés crispados sobre escorregadios seixos redondos, o braço direito aperreado e imobilizado pelas lisas espirais dos tentáculos do polvo... Três dos oito braços do polvo continuavam aderentes à rocha, os outros cinco aderentes à Gilliat. Tinham em cima dele duzentas e cinquenta ventosas, numa mistura de angústia e asco. Ver-se apertado por um punho desmesurado cujos dedos elásticos de quase um metro estão cobertos do lado interior por vivas pústulas que lhe escavam a carne! O polvo foi apertando cada vez mais e mais, e o seu esforço cresce em proporção ao homem..."
Aqui neste épico de arte fantástica, Victor Hugo descreve este violento combate com um monstro marinho como que se toda a cena fosse por ele filmada em uma câmera super 8. Coisa que em seu tempo ainda não havia sido inventada.
A universalidade dos personagens Huguescos atinge proporções por nós muito pouco compreendidas, mas o paralelo com a nossa própria realidade é muito claro! Sentimo-nos assim diretamente envolvidos ao mergulhar nas páginas de seus escritos ou ainda com o novo recurso, assistindo algum filme onde a obra de Victor Hugo foi muito bem adaptada para as telas, como é o caso de Os Miseráveis e O Corcunda de Notre Dame, entre outras. Quem puder conferir, faça-o agora porque é imperdível e fascinante, além de ser uma lição de humanidade...
HEINRICH HEINE :" A ALMA DO ROMANTISMO”
Para falar de Heine, é preciso entender um pouco da alma do romantismo alemão, do qual o poeta é um filho legitimo, engradado aos moldes dos byronianos os rebeldes que vestiam o luto no corpo, nas palavras e nas ações, Heine foi representante fiel desta casta enobrecida pela mais bela das nobres artes, a literatura universal.
Como citou José Perez no prefacio de uma excelente coletânea dos escritos raros de Heine: “múltiplas facetas se desdobram nas obras de Heine. O lírico, o ironista, o sarcasta, o cronista diário, o polemista vergastante, o revolucionário para vingar-se, notavelmente seu cariz de poeta que afirmou imortal”.
Heine escreve num estilo puro e autentico, inquestionavelmente reconhecido por uma das autoridades máximas da filosofia alemã Frederich Nietzche, que encontrou no porta a fidelidade do ideal perfeito do romantismo em todos os sentidos!
Ele foi erroneamente chamado de “Byron alemão”, mas sua autenticidade de uma forma absoluta elevou-o fielmente a altura do lord sombrio inglês, não somente pelos gostos parecidos, mais pela maneira dolorosa de ver a vida, as coisas primordiais relacionadas ao prazer e sobretudo ao amor, o ideal feminino, a busca incansável pela fada dos sonhos, a virgem encantada, e a ninfa ideal e absoluta.
Heine e Byron aqui podem ser apenas comparados pela grandeza do que produziram, mais jamais um sobrepujou o outro, pois cada qual conservou e garantiu para imortalidade a própria elegância individual e autentica. Ambos filhos do romantismo. Fizeram de seus poemas a saga completa do sentir no mundo.
Heine se apresentou aos seus contemporâneos, como “ingenuo” com coração de pombo, mas ao escrever sobre alguns temas ele demonstrou seu “bico abutre” e soube atacar e ferir com elegância. Sua ironia é feroz! Seu sarcasmo equipara-se à Voltaire, se foi odiado, nós os escritores assíduos, conhecedores de sua obra, sabemos porque! Heine ataca no amago, na raiz, no coração dos seus detratores! Quanto aos seus poemas, são puros, lembram a cadencia harmônica da literatura clássica da antiguidade. A beleza aqui domina, é a musa imortal e absoluta, cantadas aos ditames praias aproximada a Keat's: “A beleza é a verdade e a verdade é a beleza, é isso tudo que vós precisa e necessita neste seu viver no mundo”
Gênio e porta erradio, sensível ao extremo, irrequieto, atormentado pela beleza e pelo amor, Eros no plano mitologico, conheço a negrume sinistro da vida, a indiferença fria e perversa de algumas mulheres.
O inacessível no “eterno feminino” o porta sofre os mil desdens da musas ingratas, que desprezam e fogem de seus admiradores!
Neste impenetrável mundo feminino outro poeta, esse mais encabrunado conhecido por Baudelaire, escreveria “a mulher é um ser inacessível”.
Heine angustiado e incompreendido pelas mulheres e pelo mundo, vai então encontrar na boêmia e no convívio com as prostitutas o seu trágico e horripilante fim, ao contrair de uma mundana, o veneno do mal do século, a sífilis!
Mesmo sifilítico, escreve colabora para jornais, ataca, sente, compõe, trabalha na sua grande obra.
Seus livros como ele mesmo escreveu “eram navios que se perdiam na imensidão do horizonte infinito rumo ao desconhecido”
Tenho a honra de apresentar a vocês, um pouco da vida e obra desse enevoado poeta de origem judaica, de língua alemã e alma helênica...
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